quarta-feira, 8 de setembro de 2010

ENTREVISTA COM WAGNER DE ASSIS, DIRETOR E ROTEIRISTA DO FILME NOSSO LAR

Um pouco antes do lançamento do filme Nosso lar entrar em cartaz em todo o país,
entrevistei para o jornal espírita Correio Fraterno, o diretor e roteirista Wagner de Assis, o ator Renato Prieto que faz o papel de André Luiz e também o Secretário Geral do Conselho da Federação Espírita Brasileira Antonio César Perri de Carvalho. 
Os bastidores desse filme maravilhoso são contados nessa entrevista, assim como também a visão da Federação Espírita Brasileira sobre a produção. Essa matéria foi publicada no Correio Fraterno em Agosto, mas como nem todos tem acesso ao jornal, decidi colocá-la aqui no meu blog. Vale a pena ler o livro, ver o filme e acessar o Correio Fraterno. O link está no fim da reportagem. A foto do Renato Prieto me foi enviada gentilmente pelo próprio. Prepare-se pois o Wagner e o Prieto têm muito para contar!


O MUNDO ESPIRITUAL AO ALCANCE DOS NOSSOS OLHOS...

Qual é a única certeza que o homem tem ao nascer? A de que um dia vai morrer. E essa convicção, quase sempre cercada por temores e curiosidade o acompanha ao longo da vida. Como será do lado de lá? O que encontraremos? São muitas as perguntas. E justamente por tratar do tema de forma instigante que o livro Nosso lar ditado pelo espírito André Luiz e psicografado por Chico Xavier, desde que foi publicado em 1944, é cercado por números que o colocam na frente na preferência do público leitor, espírita ou não. Em forma de romance, a trajetória espiritual do médico André Luiz foi traduzida para as principais línguas do mundo, com mais de dois milhões de exemplares. Na revista Veja de junho aparece entre os mais vendidos e em primeiro lugar na lista dos melhores livros espíritas publicados no século 20.



Assim, por ser considerado um best-seller, pode-se imaginar o tamanho do desafio que enfrentou o cineasta Wagner de Assis para colocar a obra nas telas do cinema com a dimensão doutrinária que possui. E os números na produção cinematográfica parecem seguir o livro: mais de cinco mil pessoas participaram do projeto, com mais de mil figurantes. Os efeitos especiais passaram por 90 profissionais e foram feitos em Toronto, no Canadá para que a colônia espiritual Nosso lar ganhasse as dimensões contadas por André Luiz. Espírita, o cineasta Wagner de Assis, fala em entrevista para o Correio Fraterno como foram os bastidores dessa superprodução que retrata a profunda problemática do destino e do ser.

1.)Por que a história de Nosso lar foi escolhida para ir às telas?

R.)Não há quem não leia Nosso lar e não tenha uma experiência única - desde a temática, passando pela força da narrativa até a visualização de tamanhas novidades. É uma história poderosa em inúmeros aspectos, mas que precisava da hora certa para ser feita no cinema, com a tecnologia correta e viável. Acredito que o cinema reflete muito o seu tempo - entre outras tantas qualidades. Os tempos de hoje são os "chegados", como já anunciado. Tempos de transição, de necessidades urgentes para o ser humano. Uma história assim reflete seu tempo.

2.)Wagner, você assumiu o roteiro e direção do filme. Em relação ao roteiro, quais os desafios de um filme que trata de uma questão de difícil assimilação para a maioria das pessoas, que é a imortalidade do espírito?

Antes de tudo, sabíamos da importância do livro e respeitamos em todos os momentos a obra em questão. Nunca pensamos em dar "voos" diferentes do que o que já estava nas páginas. Mas cinema é uma história contada em menos de duas horas e, assim, tínhamos que exercitar a síntese e encontrar os melhores pontos da história. Os desafios foram muitos - fazer as escolhas certas para a história ser bem contada na tela. Há dezenas de histórias diferentes em Nosso lar. Tínhamos que escolher em função do protagonista. Espero que tenhamos acertado. O roteiro buscou a essência do livro - um homem acorda no mundo espiritual. Esse é o plot dramático - descobrir um novo mundo. Mas dentro disso há inúmeras questões - que mundo é esse? O que acontece com ele?O que fazer a partir dali? Acho que roteirizar é ver o filme antes de todo mundo e colocar no papel. E, dentro dessa jornada de descobertas, vemos que ela se transforma numa jornada de superação e aprendizado. Há pessoas que cruzam o caminho deste homem, há novos paradigmas a serem vividos, há questões ainda não respondidas no passado.

3.)Como foi a pós-produção?

Os efeitos são um ponto vital para a história. Não é a coisa mais importante do filme. Mas precisávamos criar uma cidade no computador e lidar com ela durante as filmagens. Filmamos sempre no limite do cenário construído e do cenário virtual que seria acrescido. Tivemos supervisores de efeitos visuais no set e depois mais de 90 profissionais passaram pelo projeto em Toronto, no Canadá. Um dia a dia intenso, quase como uma nova filmagem.Tivemos dias com mil figurantes, equipes de preparação enormes, virando 24h por dia para que tudo pudesse ser feito. E isso apenas no mundo encarnado!

4.)Em quanto tempo se deu esse trabalho até a finalização?

Filmamos em oito semanas. Pré-produzimos em 12 semanas. E pós-produzimos em nove meses quase. Desde que os direitos foram negociados, são quatro anos. Não planejávamos estrear em 2010, não tínhamos consciência do grande momento em relação ao Chico Xavier. Estava tudo planejado na espiritualidade. Fomos apenas os mecanismos. Não houve um dia sequer durante este trabalho que não senti a magia presente em nossas vidas. Um aprendizado e tanto.

5.)O ano de 2010 está se consolidando como o ano dos filmes espíritas em função do centenário de Chico Xavier. As questões transcendentais que sempre acompanharam a jornada humana se fazem agora mais presentes?

Acho que o cinema reflete seu tempo. Não sei se é um novo filão. Também não entendo o que são "filmes espíritas" - criando um gênero que não sei muito bem como é. Até agora, houve duas cinebiografias e teremos um drama, que é o Nosso lar. O tema espiritualidade certamente veio para ficar novamente. Ou melhor, retornou ao convívio das pessoas, sem medos, sem problemas em celebrar a espiritualidade. Já ouvi que é uma nova "invasão organizada" da realidade da vida espiritual, assim como houve no século XIX com o Allan Kardec e as próprias Irmãs Fox na América do Norte.

6.)Qual foi, afinal, o ponto alto para você Wagner, ao fazer esse filme? Há projetos envolvendo mais filmes nessa linha?

Acho que sair de uma vontade pessoal e encontrar tantas pessoas que tornem essa vontade real é um aprendizado pra vida toda. Aprender a acreditar cada vez mais. E a entender que somos apenas mecanismos. Cinema é a arte de todos juntos. Ao mesmo tempo, saber que a espiritualidade permitiu que esse trabalho fosse feito - porque deduzimos que se não fosse para ser feito, certamente não estaríamos aqui - é um motivo de agradecimento eterno. Sempre há novas histórias e novos projetos. Afinal, o André escreveu 16 livros, né?

Precisamos que todos os espíritas sintam-se "responsáveis" e nos ajudem a multiplicar a informação que o filme existe. Precisamos que essa "maioria silenciosa" que, acredito, existe no país, se manifeste agora de forma contundente para ir ao cinema. E isso não é só pelo filme. É pela temática - vida espiritual - e pelos novos tempos. Esperamos vocês lá!

As portas que se abrem
O telefone toca. Do outro lado dá para sentir o entusiasmo do ator Renato Prieto quando ouve a proposta da entrevista: falar sobre seu personagem André Luiz, no filme Nosso lar. O capixaba que mora no Rio de Janeiro, tem 25 anos de carreira em televisão e teatro. Renato foi visto por Wagner de Assis na peça espírita Vidas passadas. O convite para que ele se preparasse para viver André Luiz, veio em seguida. Também espírita, o ator foi buscar na obra de Chico Xavier inspiração: - “À medida que iam se aproximando as filmagens revi muitas outras vezes. Compor o personagem foi uma grande amorosa batalha, já que ele é diametralmente diferente de mim. Foi necessário vivenciar cada passo da sua jornada. Colocar-me no lugar dele e não julgar.

Entre os desafios, estava a necessidade de emagrecer em quarenta e cinco dias, dezoito quilos para representar a condição de André Luiz em seu despertar do lado de lá. Prieto relata clima de harmonia e respeito nos bastidores. Com a atriz Selma Egrei, que faz o papel da mãe de André Luiz, sempre se emocionava. Responsabilidade e gratidão são os sentimentos que marcaram esse trabalho para o ator.

A sintonia da equipe de Nosso lar com a Federação Espírita Brasileira ficou marcada também na participação que tiveram na reunião especial do Conselho Federativo Nacional realizado em Brasília, em abril, de acordo com o Secretário geral do Conselho, Antonio Cesar Perri de Carvalho: “- Eles prestaram algumas interessantes informações sobre a sensação de envolvimento espiritual durante as filmagens. Os comentários e informações da equipe do filme provocaram grandes expectativas.”

Uma dúvida surge: o risco de que o grande público nivele o entendimento do desencarne de André Luiz como regra geral. Afinal, temos entre as cinco obras básicas que compõem a codificação espírita, o livro O Céu e o inferno de Allan Kardec, que demonstra alem da imortalidade do Espírito, a consequente condição que ele usufruirá no Mundo Espiritual, em seu despertar como consequência de seus próprios atos. São muitos os depoimentos dos Espíritos que despertaram venturosos e outros que não, em função de como viveram. De modo particular, a colheita é para cada um segundo as suas obras, como disse um dia Jesus. Cesar Perri, vê Nosso lar nas telas será como uma porta que se abre para novas buscas: - “A desencarnação, atendimentos iniciais e adaptações do espírito André Luiz não foram nada fáceis. Imagino que a maioria das desencarnações sejam até mais complicadas. Os que tiverem dúvidas buscarão a leitura dos livros correlatos. Todo filme provoca o estímulo à leitura do livro que o gerou e dos similares. Será um bom estímulo inicial à leitura e à reflexão sobre as questões de vida e de morte. Caberá ao Movimento Espírita gerar uma onda de esclarecimentos e de analogias com obras sérias. Infelizmente, a obra "O Céu e o Inferno" é muito pouco estudada e divulgada entre os próprios espíritas e, sem dúvida, será um excelente momento de alavancar sua difusão.”

O cineasta Wagner de Assis concorda com Perri: -“Uma das nossas preocupações é justamente não deixar que as pessoas “rotulem” o personagem”. O conceito de suicídio inconsciente é muito forte e vemos que impacta muitas pessoas. Mas ele é "autoexplicativo" e esperamos que, nesse quesito, o público possa refletir e ponderar. Claro que sempre há riscos quando se lida com meios de comunicação de massa - variadas interpretações, todos os tipos de entendimentos. Quem quiser se aprofundar nos temas da história, nada melhor que ler Nosso lar e, quem sabe, os demais livros da série André Luiz.”

Recorro ainda ao próprio André Luiz, que sintetiza sabiamente: -“O simples ‘baixar do pano’ não resolve transcendentes questões do infinito”. Uma existência é um ato. Um corpo, uma veste. Um século, um dia. Um serviço, uma experiência. Um triunfo, uma aquisição. Uma morte, um sopro renovador. Quantas existências, quantos corpos, quantos séculos, quantos serviços, quantos triunfos, quantas mortes necessitamos ainda?”

O recado está dado.







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