Acontece que o Ganha-tempo durante uma semana é o palco escolhido para se pensar, refletir e discutir a II semana do Meio – Ambiente. A iniciativa é do Movieco – Movimento Ecológico ambientalista de Barueri que desde 1998 vem trabalhando na educação ambiental, na região metropolitana do estado de São Paulo e que faz parte da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê trecho Pinheiros – Pirápora.
O motorista de ônibus Robson Fernando Magalhães está de pé com a filhinha Sofia adormecida nos seus braços; atento, Robson acompanha as apresentações que se sucedem ali, bem na entrada do Ganha-tempo. Ele veio com a família resolver uma questão de documentos, mas não resistiu, curioso parou para assistir ao grupo Tragôdia Teatral Onírico. O grupo capitaneado pelo ator Adamo Uriel Zilis evoca a carta do chefe Seattle, um dos mais belos e profundos manifestos de respeito à vida e ao Meio Ambiente. A carta foi escrita em 1854 e é endereçada ao presidente dos Estados Unidos, que na época pretendia comprar as terras onde viviam os índios Suquamish, para situá-los numa pequena reserva. O que nós aqui em Barueri e no Brasil temos com isso? Muito mais do que se imagina... A carta do Chefe Seattle é um documento atualíssimo e universal quando se pensa em todo o processo de aculturação ao qual nossos índios tiveram que se submeter. Mais ainda quando se fala em preservação de mata nativa!
Adamo Zilis, o ator que evoca a memória do chefe Seattle comenta: “A mensagem é tão atual. Parece que acabou de ser escrita. (...) É uma semente que fica para a reflexão de todos nós. (...) Eu trago essa particularidade desde a infância. Eu tenho muita afinidade com a cultura indígena, com a preservação da fauna e da flora, que estão ligadas ao xamanismo. Sem isso não tem cura para o índio. O xamã é o médico dos índios. Entre os povos gregos, pelo teatro se buscava a cura e entre os árabes era a música a responsável pela saúde do espírito.”
Com uma agenda de atividades focada na educação, com múltiplas ações como a coordenação de grupos de estudo, consultoria em gestão ambiental e desenvolvimento de programas em setores públicos e privados, o Movieco, também aposta no teatro como ferramenta lúdica de conscientização e mudança de paradigmas.
O projeto “Bicho é o bicho” que tem como alicerce a literatura, a música e o teatro, também se apresentou no Ganha-tempo para uma plateia pra lá de seleta e entusiasmada: sim você acertou no público-alvo das ações ambientais: as crianças! Afinal é com elas que se dá todo o despertamento da consciência socioambiental. Elas são os agentes multiplicadores mais eficientes na educação de todos nós, os adultos.
A socióloga Lou Spinelli com vinte anos de experiência no Terceiro Setor em instituições nacionais e internacionais em projetos socioambientais, uniu-se a musicista e talentosa cantora paraense Giselle Griz, de olho nesse público que é sintonizado, inteligente e ávido por informação.
Parceria, que as autoras de “Kira” estão buscando em São Paulo como declara Lou Spineli:“Nosso maior objetivo é trabalhar com escolas públicas, movimentos de bairros, ONGs. O que a gente tem procurado fazer e ainda não se concretizou é parceria com os governos, com os municípios para que a gente possa fazer doação de livros e não venda”. Como o projeto “bicho é o Bicho” é independente, Lou Spineli e Giselle Griz estão assumindo todos os custos com o livro, cd e a performance teatral que acompanha a apresentação de “kira” para o publico infantil.
O pequeno Bruno, de cinco anos de idade, filho do motorista de ônibus entrevistado, Robson Fernando Magalhães, teve que sair praticamente arrastado pela mãe da apresentação do “Bicho é o Bicho”. A mãe tinha que trabalhar e o garotinho não conseguia desgrudar os olhos das personagens ali na frente. Só depois de beijos, fotos e abraços, ele se conformou - e de pescoço torto- saiu lançando um olhar “cumprido” para Kira, a gatinha ambientalista...
É ver para se apaixonar também. Criança sabe o que quer!
Tragôdia Teatral Onírica : serpenteuivante@yahoo.com.br