sexta-feira, 21 de maio de 2010

FRANCISCO DE ASSIS, O ARTESÃO DO AMOR



Quando criança, a  imagem de Francisco de Assis me magnetizava. Na época não tinha o menor conhecimento ou informação a respeito de quem teria sido esse homem ou de sua importância no cenário humano. O fato é que cresci hipnotizada por todas as imagens (de barro, madeira, ferro, tecido, gesso...) desenhos ou gravuras que o registrassem! Meu coração batia descompassado quando eu encontrava uma dessas referências a Francisco de Assis. Tenho por isso, algumas em casa. Acontece que em nosso processo de busca e crescimento, as vezes precisamos de símbolos ou signos para nos conectarmos com a essência do que não é palpável, mas essencial. Com o tempo, dedicação, estudo, fé e perseverança vamos nos libertando dessas necessidades e a nossa conexão com a verdade da vida se instala sem a presença dessas simbologias, ocorre tão somente pelo sentimento e pelo pensamento. Por isso, a mais bela de todas as imagens que guardo do Poverello, a que está gravada no meu coração, não é uma imagem física ou material, é a imagem dele mesmo, construída no exercício do  verdadeiro Amor, um sentimento difícil de compreendermos, pois ainda estamos longe de vivê-lo aqui na Terra em função de nossa infância e imaturidade espiritual. Acontece que ainda não aprendemos a amar incondicionalmente. E Francisco amou assim, viveu assim, foi o artesão do Amor que trouxe de volta ao nosso planeta, o mais puro evangelho de Jesus, sufocado na Idade Média, a idade das trevas e das Cruzadas...
Para avaliarmos o que significa isso, precisamos voltar um pouquinho no tempo, mais precisamente para o dia 26 de Setembro de 1182, em Assis, região da Umbria, província de Perugia ao sul da Itália. Nascido numa abastada família, filho do respeitado e bem-sucedido comerciante Pietro Bernardone e de Dona Pica Bernardone, Francisco chega ao mundo e a despeito da posição social de seu lar, nasce com a mesma simplicidade de Jesus, no estábulo onde dormiam os animais de propriedade da família. Surpreendentemente não foi numa suntuosa cama de dossel que a mãe, D. Pica, encontrou o conforto que buscava para aquele momento sublime...
Criado com todo o luxo e a riqueza que o pai poderia lhe proprocionar, Francisco supera todas as expectativas a seu respeito, tornando-se um jovem alegre e vibrante, mas estranhamente tocado pelas sensações do espírito, quase nada pelo corpo. Profundamente ligado à natureza, passava horas em contemplação com a visão singela de um pássaro cantando ou de uma flor em botão. O que encantava Francisco eram os bens gratuitos que Deus oferece a todos nós, todos os dias, como o nascer do Sol, a brisa suave das manhãs, as chuvas de verão batendo na terra molhada. Sua integração com a obra de Deus era tamanha que numa ocasião enquanto pregava descalço e só pela cidade de Gubbio, ao norte de Assis, ele foi procurado pela comunidade local apavorada por um lobo feroz. Confiante nas possibilidades transformadoras do amor, indiferente ao instinto do animal, Francisco o procurou numa gruta. Amorosamente atraiu o lobo e o domesticou naquele momento num processo de simbiose que foi de alma a alma! Não havia medo no coração de Francisco e o animal captando isso, se entregou.
 Enfim não eram as moedas de ouro, os finos tecidos ou as jóias acumuladas por seu Pai que o atraíam para o ambiente doméstico, mas as conversas filosóficas com a mãe e a ex-escrava grega Jarla, que também o criou...Francisco buscava os valores espirituais e não os materiais, escolha que o distanciou do Pai, inconformado com as opções do filho, incompatível para os projetos de sucessão que Pietro Bernardone havia idealizado para ele!  
Se nos colocarmos no lugar de Pietro Bernardone, veremos que muitos de nós, ainda hoje, idealizamos para seus filhos projetos e sonhos que acreditamos, serem o melhor para eles. Fazemos por amor, por instinto de proteção, mas consideremos que fazemos também por ignorarmos que nossos filhos - por mais que os amemos - não são nossos, são de si mesmos e dos destinos que escolherem pelo livre-arbítrio dado por Deus a todos nós. Assim sentimos por Pietro Bernardone, compaixão, pois podemos nos ver um pouco nele...Já a mãe de Francisco, é a mãe que ama de forma aberta, incondicionalmente, sem expectativas e sonhos em relação ao filho, respeita-o e considera-o porque entende que suas opções e compromissos são maiores que sua posição terrena de filho. Dona Pica nos ensina a amar libertando, assim como Maria, a mãe de Jesus nos ensinou um dia! 
Essa reflexão que faço sobre os sentimentos dos pais de Francisco é porque muitos de nós são também pais e assim é sempre valioso meditarmos em "como estamos exercitando" nossa maternidade e paternidade. Tão pouco pretendo aqui contar a história da vida de Francisco de Assis, amplamente e lindamente contada por competentes escritores e pesquisadores em todo o mundo. Minha intenção é tentar resgatar um pouco do sentido da vinda desse Espírito de Luz entre nós, famintos que estamos de valores morais e éticos que nos retirem da desesperança e da tristeza existencial. Temos em Francisco um enorme manancial de alimento para nossas almas, de paz para nossa vida e de conduta reta até Jesus, nosso Mestre, em tudo e para tudo.
Francisco tão humano quanto nós, sofreu ao fazer suas escolhas, chorou ao deixar sua família, foi perseguido ao buscar uma vida à margem de tudo o que ditava a burguesia da época. Ele também se fez voluntariamente humilde para implantar o sentido real do evangelho de Jesus entre nós - prática de vida, roteiro de amor - para os chamados da última hora, que somos todos nós!
Francisco veio nos mostrar que o evangelho de Jesus não pede luxo, cátedra, ostentação ou aparência. O evangelho de Jesus é compartilhamento, é consideração uns pelos outros, é tolerância, é respeito, é dignidade e bem comum. Em uma palavra - que substancialmente ainda não conhecemos - é Amor!
Em todo ser vivo, animal, vegetal e humano há o essencial de Deus pulsando o bem, esperando adormecido potencialmente para ser posto em uso por todos nós. Francisco sabia disso por isso dominava os lobos, cantava com os pássaros e era seguido pelos peixes quando se abeirava dos rios e dos mares. Ele enxergava Deus em essência em tudo e em todos. Se pensarmos no significado que isso encerra, olharemos nosso planeta com mais respeito, fraternidade e consideração. Se evocarmos o espírito de Francisco de Assis em memória e exemplos, teremos um foco a iluminar nosso caminho em direção a luz.
Francisco de Assis veio como artesão do Amor, reacender a luz que Jesus nos trouxe um dia!
Basta a nós querermos seguí-la...
Para fechar, deixo aqui, como dica de livro " Francisco de Assis" de João Nunes Maia, pelo espírito de Miramez, Editora Fonte Viva.
Obrigada a todos e até mais!


quinta-feira, 13 de maio de 2010

O MOINHO DE PEDRA DO GUARAPIRANGA E O EXERCÍCIO DO AMOR

Há quinze anos atrás, a rotina de Rita de Cássia de Vicenzo, nas   terças-feiras era sempre a mesma. Quando saia da Puc, onde fazia mestrado, passava pela praça das Guianas e parava para comprar balas de algumas crianças que ficavam por ali, muitas vezes debaixo de chuva. Certas de que tia Rita viria, elas esperavam porque sabiam que ali estava a cliente certa: acontece que a advogada comprava todo o estoque para que as crianças fossem para casa mais cedo! A notícia se espalhou e logo o número de crianças era muito maior. Nas quartas, também passava pela praça, o tio Jura, um senhor que levava lanche para a criançada. Insatisfeita com a situação, Rita  considerou que sem instrução, educação e um direcionamento mais concreto, as crianças permaneceriam nas ruas sem direito a um futuro melhor...assim a advogada entrou em contato com as famílias e negociou cestas básicas em troca de frequência escolar.

Um tempo depois, sob a proteção de Francisco de Assis, ela e uma amiga estavam evangelizando as crianças na favela do Guarapiranga. A mudança precisava de uma estrutura sólida  que contasse com sustentação espiritual para todos, inclusive para as mães. A iniciativa recebeu apoio do Instituto Espírita Allan Kardec de Educação e assistência Espiritual e assim foram chegando coloboradores interessados em fazer diferença na vida daquelas crianças e adolescentes carentes da comunidade.


A arquiteta Zelma Cincotto viu ali uma oportunidade de trabalho onde a prática do amor, do equilíbrio  e do esforço conjunto cobrava uma formatação mais concreta - um local foi alugado para que fosse oferecido acolhimento para as crianças - assim nasceu o Moinho de Pedra do Guarapiranga, uma OSCIP - Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, sem fins lucrativos - essa adorável casa que você vê na foto ao lado. 

Outras tias como  Tita,  Rosana,  Cecília,  Diana e os tios Zé Luis e Rodrigo, vieram somar atenção, esclarecimento e orientação para as 80 crianças e adolescentes carentes, entre 3 e 17 anos de idade, que são atendidas. Na casa, elas recebem reforço escolar acompanhado pelo cuidadoso olhar da pedagoga Diana Granato e da professora Juliana, moradora da comunidade.
Diana também realiza psicodrama com mães que encontram ali uma oportunidade de trabalho psicológico para suas vidas.
Todos os professores do Moinho cumprem um programa de evangelização espírita elaborado anualmente com o propósito de proporcionar para as crianças a possibilidade de mudança interior pautada na ética e na moral de Jesus, tão fundamental para todos nós...

O advogado Rodrigo Setaro conta que no balanço pessoal que faz das atividades com as crianças, chegou a conclusão que ganha muito com elas: "...O mais importante é a prova que estou passando em termos de paciência, ânimo e respeito. A convivência com as crianças do Moinho serve como um excelente laboratório de autoconhecimento, estou aprendendo mais com elas do que elas comigo."
O escritor Dias Campos, conta que : "Ir dar aulas de evangelização no Moinho tem sido mais que prazeroso; é um verdadeiro banquete! Aliás, é como costumo dizer para os alunos, de duas uma: ou isso é a mais pura verdade, ou eu sou o sujeito mais burro desse mundo, pois, mesmo tendo uma esposa que muito amo, um encanto de filhinho com quase dois anos e piscina no condomínio, jamais falto àquelas aulas, em que pese serem ministradas aos sábados de manhã, quando, via de regra, faz um sol maravilhoso. De outra parte, quando ex-alunos vêm nos visitar, nossos espíritos se abastecem de eflúvios divinos, pois abraçam-nos com toda força da verdadeira amizade, da verdadeira gratidão; e passamos a chorar em segredo, um choro de completa alegria."


Você consegue imaginar o efeito disso numa criança que muitas vezes nasceu num lar emocionalmente desestruturado?!


A casa é mantida com algumas doações,  e  parceiros importantes como New dog, Instituto Allan Kardec,  Bagel, Spinelli, e   a empresa Ninecon, além de pessoas físicas. Uma vez por mês também acontece um bazar beneficente coordenado por zelma Cincotto, que atraí a comunidade em busca de bons produtos como roupas, utensílios domésticos, brinquedos e peças de decoração com preços muito convidadivos, pois o objetivo é também proporcionar inclusão social no consumo para a comunidade do Guarapiranga. A estrutura do Moinho conta também com uma biblioteca e uma sala de informática, que foram gentilmente "clicadas" por Dias Campos para que você conhecesse um pouco desse cantinho protegido e abençoado por Francisco de Assis...
A verdade é que todos que lá trabalham, inclusive eu, recebem muito mais do que dão porque é no exercício do amor tão bem exemplificado por Francisco de Assis que aprendemos que dar é infinitamente mais gratificante do que receber...nossos corações agradecem!!
Experimente! Conheça pelo site www.moinhodepedra.com esse cantinho que é um pedaço do céu!


sexta-feira, 7 de maio de 2010

Se os seus olhos forem bons...

Se os seus olhos forem bons...

HOMENAGEM AO DIA DOS FILHOS...


Mais uma vez nesse segundo domingo de Maio comemora-se o dia das mães, mas eu optei por comemorar o "dia dos filhos" pois sem eles, nós, as mães não existiríamos...
Minha homenagem para eles, os filhos, se justifica porque um dia, eles nos escolheram para recebê-los dentro de nós, nos nossos corações e para os encaminharmos na vida. Sabe o que isso significa?
Que nessa escolha que fizeram, eles derramaram sobre nós confiança, amor e fé!
Confiança! Confiança de que somente nós estaríamos capacitadas para orientá-los e criá-los dando toda a formação moral e intelectual que precisariam para enfrentar as dificuldades da vida.
Amor! Amor o bastante para que nos aceitassem com nossas inseguranças, medos, angústias, fraquezas e outros quesitos tão comuns à alma feminina.
Fé! fé suficiente para crerem sem ver e sem testar anteriormente nossos atributos maternos. Eles assinaram uma folha em branco em que diziam apenas: "É essa a mãe que quero para mim, é essa mãe que preciso!"
Também são eles, os nossos filhos que nos ensinaram o dom da paciência, esse atributo divino que só os mansos alcançam depois de muita iluminação interior - e são eles, os nossos filhos - que nos trazem o indispensável exercício da paciência, quando pequeninos ficam doentes e nós insones precisamos estar calmas para cuidá-los. Quando adultos, também nos ensinam a paciência e a aceitação de quem respeita o filho com as escolhas que ele fez e não aquelas que um dia sonhamos para eles...
Eles nos impulsionam para a paciência quando transbordando energia nos obrigam a acompanhá-los num ritmo frenético que não olha a idade materna.
Nossos filhos também nos induzem ao paciente escutar quando adolescentes nos colocam diante dos maiores embates emocionais e psicológicos com eles e principalmente dentro de nós.
Eles, nossos filhos, nos ensinam a sermos mais generosas porque ao chegarem ao mundo e nos olharem pela primeira vez, fazem nosso coração experimentar um amor que só sabe dar e dar cada vez mais. A generosidade que não temos, que nos falta, aprendemos com eles, que nos tornam pessoas melhores, mais tolerantes com as nossas limitações e também com as dos outros. Eles enchem nossa casa e carro de amigos, nos transformam em motoristas e conselheiras permanentes deles e daqueles que eles consideram e escolheram para conviver - e nós acatamos com devoção e alegria! Eles estão sempre pedindo coisas, atenção e isso nos exercita na generosidade porque queremos atendê-los e acolhê-los em suas necessidades. Quando nos damos, recebemos muito mais em troca, nos alimentamos espiritualmente...
Nossos filhos também nos trazem amadurecimento e crescimento pessoal porque precisamos ser adultas para conseguirmos educá-los, protegê-los e ajudá-los em muitas das escolhas que fazem: a roupa da festa que irão, o que fazer depois do primeiro fora da namorada, como lidar com a rejeição, como secar as espinhas, que profissão escolher, o que falar para o amigo que rompeu com ele?
Eles nos ocupam, causam transtornos, noites mal-dormidas, consultas com especialistas, conversas na escola, dores de cabeça, insonia, preocupação, mas sobretudo, nos ensinam verdadeiramente a amar nos dando também oportunidade de progresso e crescimento! Sim nós evoluímos e mudamos, pois entramos frágeis e inseguras nas nossas empreitadas maternas e saímos indiscutivelmente mais fortes e vigorosas para os embates da vida! 
Nossos filhos é que merecem todas as honras, carinhos, flores e agradecimentos nesse dia das mães, por tudo que são para nós, mas principalmente porque nos transformaram em pessoas melhores. Ser mãe é mágico, é sublime,  é sem dúvida nenhuma, a maior de todos as realizações de nossas vidas! Sem eles, nós não teríamos vivido tudo isso! Não seríamos quem somos...

Agradeço ao meu filho Eduardo, que hoje tem 29 anos. Foi ele quem me despertou para o encantamento da maternidade! Com ele descobri realmente o que é amar... Também foi ele que me ensinou com sua maturidade o fato de que os filhos não são nossos, apenas vem para a vida através de nós!  obrigada filho por sua doçura, ternura e gentileza.
 Agradeço ao meu filho Fernando, que hoje teria 28  anos. Foi ele quem me despertou para a alegria de uma vida em constante ebulição, alegre e festeira, desprendida e generosa! Em sua rápida passagem pela Terra me fez conhecer a dor da separação partindo há três anos, mas me fazendo compreender que prosseguimos como mãe, sobrevivemos (inacreditavelmente sobrevivemos!) amando da mesma maneira que antes, sempre e cada vez mais...Ouço sua voz na minha mente quando a saudade dói, me trazendo calma e a certeza de que persiste vivo mais além. Sinto ainda o seu perfume envolvendo nossa casa quando meu pensamento busca o seu e posso vê-lo sambando de um jeito malandro que me encantava...
A verdade é que permanecemos em nossos filhos e eles permanecem em nós mesmo quando se tornam adultos, quando casam, quando partem de volta para Deus, afinal o amor é esse cordão umbilical que liga coração a coração, transpondo barreiras como o tempo, a distância, a vida e até a morte...
Obrigada Duda e Nando por terem me escolhido como mãe um dia, por terem apostado em mim e por terem feito de mim um ser humano melhor! Esse dia das mães é o dia de vocês! Amo vocês sempre!

segunda-feira, 3 de maio de 2010

AS FÁBULAS QUE CARREGAMOS DENTRO DE NÓS...


Toda criança gosta de fábulas, principalmente a criança que mora dentro de nós.
A explicação para isso é simples: as fábulas que ouvimos um dia de nossos avós e pais e que repetimos para nossos filhos e netos, são sempre instrumentos e ferramentas de conteúdo moral que despertam dentro de nós valores importantes para a vida - elementos que usaremos em nosso processo de educação -  nos relacionamentos e no convívio social, mesmo que em nossa infância não tenhamos consciência desse uso.
Na verdade, gostamos das fábulas porque elas envolvem movimento, interatividade, entretenimento mas principalmente porque nos vemos e nos enxergamos através delas!
As fábulas são como espelhos mágicos onde nos vemos refletidos de forma lúdica e por isso mesmo se desejarmos, são valiosos instrumentos de autoconhecimento pela vida afora...
O maior fabulista que já existiu foi Esopo, um grego que viveu no século VI a.C. e que usava os animais dando-lhes vozes, atitudes e expressões tanto quanto os homens, para que nós, os próprios, nos vendo através dos bichos, nos entendêssemos melhor .  Não se sabe muito a respeito de Esopo, que acabou resgatado em sua memória,  por causa de outro fabulista espetacular, que foi Jean de La Foutaine.
O francês La Foutaine, que viveu entre 1621 e 1695, cresceu em meio à natureza e em função disso, desenvolveu o hábito de observar (e aprender!) com os animais, considerados pelo grande escritor, verdadeiros filósofos...a criatividade, a percepção e discernimento de La Fountaine renderam a ele um honroso lugar na Academia Francesa em 1684 e o respeito de toda a corte do rei Luís XIV. Voltaire (que não era dado a esse comportamento!) teceu elogios rasgados a La Foutaine e as fábulas, com que ele descrevia a arrogância humana de então e a erudição cultural, que precisava a todo custo, ser rebuscada para impressionar. Disse Voltaire certa vez sobre o fabulista francês: "...Acredito que, de todos os autores, La Fountaine...é para todo tipo de espírito e para qualquer época" 
Voltaire sabia o que estava dizendo! Qualquer época mesmo...vamos exemplificar isso buscando La Fontaine. Quase todo mundo conhece a fábula da raposa e do corvo, mas não custa relembrar a história que descreve com precisão e propriedade a questão da lisonja, da sedução, da esperteza e do orgulho...vamos a ela!
Em cima de uma árvore um corvo se preparava para devorar um pedaço de carne, quando uma raposa parou e olhando para ele exclamou sedutoramente: "Que bonito o senhor é Sr. Corvo, com essas penas tão reluzentes e brilhantes...imagino seu canto, deve ser o mais lindo de toda essa floresta!" - O corvo então seduzido pelas palavras da raposa, abriu o bico para cantar deixando cair o pedaço de carne, que obviamente foi surrupiado pela esperta raposa!
Moral da fábula: Como corvos, nós nos deixamos embalar pelos elogios que muitas vezes não refletem a verdade, mas suprem em nós uma carência interior profunda de sermos aceitos, valorizados e apreciados pelos outros. Também como corvos, somos ingênuos permitindo que qualquer sedução vulgar nos embriague a ponto de nos deixar vulneráveis a julgamentos, opiniões e situações complicadas e dolorosas. Falta-nos o conhecimento verdadeiro de nossas potencialidades, virtudes, falhas e defeitos. Não nos conhecemos, assim somos manipuláveis, manipulados e usados pelas raposas a solta no mundo.
Como raposas, nos achamos espertíssimos, sempre a postos para a primeira oportunidade de tirarmos vantagem de algo ou alguém. Também como raposas desdenhamos daqueles que não possuem esse senso de oportunidade que nós temos. As raposas afinal, sempre encontram uma maneira de manipular, seduzir e enganar pois o mundo está cheio de "iscas" dando sopa...
Tanto Voltaire, com seu senso de observação a respeito do trabalho de La Fontaine, quanto o próprio, conheciam a alma humana tão frágil e entregue às vicissitudes e sofrimentos da vida...
Muito antes disso, Sócrates já dizia que o caminho da felicidade estava em conhecer-se a si mesmo, pois só pelo autoconhecimento nos educaríamos para a vida. Com a mesma intenção falou Jesus no exame de nossas faltas e Santo Agostinho na necessidade diária de avaliarmos nosso comportamento em relação ao nosso próximo e a nós mesmos.
Mas o fato é que vivemos tão para fora de nós, vivemos tanto para as aparências e exterioridades, tanto para sermos aceitos, para desempenharmos os papéis que esperam de nós que esquecemos de nos olhar verdadeiramente! O que dirá então, nos avaliarmos interiormente?
Somos muitas vezes autômatos nas nossas atitudes, agindo por agir, falando por falar, vivendo para os outros e não para nós, esquecendo as fábulas que carregamos dentro de nós e que se as usássemos mais, faríamos um pouco como nos preconizou La Fontaine, Sócrates e acima de tudo, Jesus, o maior de todos os educadores que já passaram pela Terra!
E se não somos mais crianças ou matamos a criança que existia em nós e assim esquecemos todas as fábulas que um dia ouvimos de nossos pais, temos sempre um outro roteiro (infalível!) a nossa disposição para nos conhecermos melhor: as bem-aventuranças ou o Sermão da Montanha proferido nas colinas de Kurun Hattin no lago de Genesaré por Jesus.
Mahatma Gandhi, num de seus muitos momentos de iluminação, disse que se todos os livros que existem no mundo se perdessem ou fossem queimados e só sobrasse as bem-aventuranças, a humanidade estaria salva!
O que será então que nos falta a todos para nos conhecermos melhor e nos salvarmos de nós mesmos?!!

Dica de leitura: "La Fontaine e o comportamento Humano" de Francisco Do Espírito Santo Neto ditado por Hammed.
"O  Sermão da Montanha" texto integral de Huberto Rohden