quinta-feira, 3 de junho de 2010

PARA ONDE A ANSIEDADE NOS LEVA?

Nina atende o celular enquanto dirige e entre um sinal que abre e fecha agenda dois compromissos para aquela manhã. Olha o relógio e calcula o tempo...será que dá? será que chego, que dou conta? A manhã está ensolarada e pela janela do carro a brisa traz o cheiro do mar, um delicioso convite para nada fazer, apenas contemplar. Mas a agenda de Nina grita, cobra e exige. Ela não sente o sol, não respira o aroma do mar, não se pemite observar. Está ansiosa mal começou o dia! Nina anda pressionada pelos compromissos da vida, pelos múltiplos encargos assumidos, pelas relações familiares aos trancos e barrancos, por tudo tão urgente, descartável e imediato! A vida parece escorrer pelas horas consumidas fora de si, totalmente fora de si. Há quanto tempo ela não chora estirada no sofá? Por quê não busca mais o colo da mãe para aquele gostoso cafuné? As violetas de sua varanda deram flor e ela só as viu de longe quando chegava carregada de compras da rua! Nina automatizou seus atos e gestos para cumprir com as exigências de uma existência atribulada e a ansiedade, agora mora dentro dela. A ansiedade é sua grande companheira.
Nina trabalha seus pensamentos e consequentemente suas ações na construção de muita atribulação por causa das escolhas que fez. Sua alma atormentada envia os mais variados alarmes de que as coisas não vão bem. A insônia, a impaciência, a irritabilidade e a angústia estão traduzidas em sintomas físicos: ela trata uma úlcera e a síndrome do pânico não dá sinais de melhora. 
Nina gasta toda sua energia espiritual idealizando ansiosamente seu futuro: cria expectativas fantásticas e metas que a fazem sofrer ainda mais quando não as consegue atingir. Preocupa-se com as festas que irá, com o tipo de companheiro que terá, se já não passou da hora de ter filhos, e a aquela promoção que não chega? Ela quer trocar o carro, viajar, casar, enfim...Nina colhe as frustrações da ansiedade de uma vida projetada e não vivida. A medida que ela busca ansiosamente e não alcança, frustra-se. Porém, segue adiante sempre buscando mais sem se olhar, sem se perguntar por quê? para quê? quero mesmo isso?
Quantas Ninas não encontramos por aí ou em nós mesmos, desorientadas e tragadas pela ansiedade que não poderá alterar nosso caminho? Onde encontraremos um tempo dentro de nós para contemplarmos uma bela manhã de sol, os botões da flor que cuidamos e abriram? Como conciliaremos o amor dos que amamos com a elegância de pequenos gestos delicados, como uma visita inesperada, um telefonema sem propósito definido?
Ansiamos tanto que não notamos que vida segue levada por um tempo que não volta. Precisamos viver, isso é um fato que traz agregado a si todos os compromissos inerentes, que como adultos, precisamos assumir, não se contesta isso.No entanto, exageramos, criamos processos dolorosos para nossos espíritos pressionados por necessidades dispensáveis. Sofrimentos adicionais a nossa alma já tão sufocada em si mesma.
Precisamos nos alimentar, nos vestir, nos intelectualizar, isso não é questionado. Mas precisamos sobretudo discernir e equilibrar os pesos e as medidas das coisas que carregaremos um dia dentro de nós e aquelas que ficarão aqui. Acumulamos a bagagem desnecessária. A bagagem que nos desapropria de nós mesmos. Nos perdemos tentando nos achar numa vida que muitas vezes responde a um ideal que verdadeiramente não é o nosso. É um ideal "idealizado", fabricado sabe-se lá porque e para quê!
Qual é a medida do necessário? Como pode o homem conhecer o limite do necessário, perguntou Allan Kardec aos espíritos que o orientavam...a resposta veio simples e objetiva no Livro dos Espíritos, na questão 715:"Aquele que é ponderado o conhece por intuição. Muitos só chegam a conhecê-lo por experiência e à sua própria custa."
Traduzindo: muitos de nós sabem dimensionar o necessário e então parar para escolher o que nos tornará mais felizes e plenos. Outros só o percebem depois que a dor se instala na alma através da ansiedade, da angústia e da tristeza crônica. Por isso os consultórios andam tão cheios...
Busco Jesus em sua sabedoria cósmica. Olhar de quem sempre viu longe e profundo. Está lá em Mateus, capítulo 6, versículo 25-26, a nossa disposição, para quem quiser ver, ou ter olhos de ver:" Por isso vos digo: não vos dê cuidados a vida, o que haveis de comer e o que haveis de beber;nem o vosso corpo, o que haveis de vestir. Não vale, porventura, mais a vida que o alimento, e o corpo mais que a vestimenta? Considerai as aves do céu; não semeiam, nem ceifam, nem recolhem em celeiros - vosso Pai celeste é que lhes dá de comer. Não sois vós, acaso, muito mais do que elas? Quem de vós pode, com todos os seus cuidados, prolongar a sua vida por um palmo sequer? E por que andais inquietos com que haveis de vestir? Considerai os lírios do campo, como crescem; não trabalham, nem fiam; e no entanto, vos digo que nem Salomão em toda sua glória se vestiu jamais como um deles. Se, pois Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada ao forno, quanto mais a vós, homens de pouca fé!" 

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